Em 1985, um homem é condenado à prisão por estupro numa pequena cidade em Winsconsin, nos EUA. Dezoito anos depois, o verdadeiro criminoso é encontrado – e são reveladas também uma série de irregularidades na investigação e no julgamento – e descobre-se que ele era inocente. Mas sua inocência não dura muito, já que, em 2005, é novamente acusado, desta vez de estupro e assassinato, em outro inquérito cheio de controvérsias. O protagonista desta história é Steven Avery, cujo caso ficou famosos graças à série documental “Making a murderer”, vencedora de 4 Emmys e exibida pela Netflix em 2015. Jerome F. Buting foi um dos advogados de defesa de Avery durante o segundo processo. Neste “Ilusão de justiça”, que chega às livrarias no fim de abril pela BestSeller, ele narra os bastidores do caso e conta como ele mudou sua forma de enxergar a justiça e o sistema penal dos Estados Unidos.

Em uma narrativa que combina reportagem, críticas e reflexões pessoais, Buting conta detalhes que podem ter passado despercebidos até para quem assistiu ao documentário, analisa o comportamento de juízes e promotores, e explica seu trabalho ao lado do outro advogado, Dean Strang, na tentativa de ir ao fundo da história. Assim, examina também, de forma objetiva, o funcionamento do sistema judicial americano e aponta o que considera que sejam suas principais falhas.

Buting descreve ainda outros casos complicados nos quais trabalhou e conta um pouco da história da própria carreira, desde o início como defensor público até a atuação no Innocence Project, iniciativa que reuniu diversos especialistas para tentar garantir julgamentos efetivamente justos a pessoas que talvez não os tivessem. 

TRECHO: 

“O caso Avery testaria nossa crença no sistema como poucos. Ele tinha todos os elementos do poder mastodôntico do governo movido contra um homem que havia sido um pária a vida inteira. Na maioria das cidadezinhas dos Estados Unidos, há pelo menos um indivíduo visto como suspeito pela comunidade e maltratado pelas autoridades policiais desde a juventude. Eles viram o “suspeito de sempre” aos olhos dos policiais e havia uma história similar na vida de Steven Avery. Nós instintivamente entendemos o lugar de Avery no mundo e sabíamos que nossa função era dar a ele a melhor defesa que pudéssemos. Até entrarmos no caso, porém, não fazíamos ideia de como as autoridades policiais estavam dispostas a ir longe para arruinar Avery e derrubar o embaraçoso processo que ele movia contra a cidade onde nasceu. Nós éramos tudo que havia entre Steven Avery e um grande rolo compressor”. 

Jerome F. Buting é advogado de defesa criminal, graduado em estudos forenses pela Universidade de Indiana e em direito pela Universidade da Carolina do Norte. Foi diretor da Associação Nacional de Advogados de Defesa Criminal e presidente da Associação de Advogados de Defesa Criminal de Winsconsin. É sócio num escritório de advocacia e dá palestras pelo mundo.