Lei antifumo entra em vigor na sexta-feira (7) no estado de São Paulo (Foto: Daigo Oliva/G1)
Revolta e indignação foram as palavras mais proferidas por fumantes ouvidos pelo G1 em bares e baladas neste fim de semana, o último antes de a lei antifumo entrar em vigor em São Paulo.
Nos quatro locais visitados na noite de sexta-feira (31) os clientes criticaram de diversas formas a nova lei – que, segundo eles, é muito rígida. A partir do dia 7 de agosto, estabelecimentos que permitirem que seus clientes fumem receberão multa que pode variar entre R$ 792,50 até R$ 1.585. Na segunda irregularidade, a cobrança será dobrada e, na terceira autuação, o estabelecimento comercial poderá ser totalmente interditado por 48 horas. Caso volte a desrespeitar a lei, as outras interdições serão por 30 dias.
“É uma lei totalitária”, afirmou o advogado Mauro Kertzer, de 48 anos. Sentado em seu bar favorito, o São Pedro São Paulo, no Itaim Bibi, Kertzer reclamava do governador do estado – e idealizador da lei –, José Serra. Entre uma pitada e outra em seu cachimbo, revelou: “Sempre votei no PSDB [partido do governador]. Agora não mais votarei”.
O medo de assaltos também foi lembrado pelos fumantes. Conforme a lei, quem quiser fumar e estiver em estabelecimentos como bares e restaurantes deverá sair do local para acender seu cigarro. “A polícia estará lá fora para me proteger?”, questionou a psicóloga Maria Theresa de Souza, de 42 anos.
Quem também temia a vulnerabilidade em ficar nas calçadas de bares e baladas durante a noite era a arquiteta Ana Paula de Luca, de 33 anos. “Serei ressarcida se for assaltada?”, perguntou. Para ela, a lei seria mais aceita se fosse abrandada. Uma solução seria a possibilidade de os estabelecimentos criarem áreas para não fumantes que impedissem efetivamente a passagem da fumaça do cigarro.
Também aproveitando o último happy hour de sexta-feira antes da proibição, o bem humorado Osvaldo Silveira, 64 anos, após acender um cigarro no Píer Paulista, próximo à Avenida Paulista, afirmou que, para ele, o argumento de que essa nova lei será benéfica à saúde pública não se sustenta. “Picanha também faz mal. Vão proibir?” Questionado sobre sua profissão, afirmou: “Sou fumante inveterado e revoltado”.
Fim da balada
Baladeiros menos pacientes afirmavam que tomarão medidas extremas. “Se não puder fumar, não vou mais”, afirmou a publicitária Gláucia Kanashiro, 28 anos. Se a vontade de sair for maior que a revolta contra a lei, ela disse que poderá tentar medidas alternativas para aplacar o vício, como o uso de adesivos de nicotina. “Já usei e sei que funciona. Só não sei se irá adiantar junto à bebida.”
Quem também pretende deixar de ir a baladas é o diretor de galeria Raphael Octávio, 24 anos. “Semana que vem, só vou a lugares onde se possa fumar”, disse, enquanto soprava fumaça no Geni Club, na região central de São Paulo.
A administradora Andreza Fontana, 32 anos, discorda da lei e afirmou que não deixará de fumar em casas noturnas e em festas como a Trash 80’s, no Centro da capital. “Vou ao banheiro escondida fumar”, contou.
Lado positivo
Entre os que fumam, há uma boa parcela que se diz a favor de alguns pontos da lei. “Pelo menos não iremos mais para casa cheirando a cigarro”, afirmou a bióloga Elda Berbet, 30 anos.
Fumante há 42 anos, o gerente comercial Salvador Fernando Perez, 57 anos, jura que, por conta da lei, irá parar de fumar. “Até o dia 7 de setembro, deixarei o cigarro”, revelou. Para ele, a lei é ótima. “Ela é benéfica ao ser humano. E, além disso, acho uma falta de respeito fumar perto de quem não gosta”, completou.