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Alerta dos médicos é que emergências nos nascimentos são imprevisíveis em muitos casos e possível ausência de um médico obstetra e um pediatra no parto é um risco para mãe e para o bebê Retirar a obrigatoriedade da presença de um médico obstetra e aceitar que enfermeiros realizem partos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma decisão irresponsável e política. A avaliação é da Sociedade de Pediatria do RS (SPRS). Segundo o médico neonatologista e vice-presidente da Marcelo Pavese Porto, algumas mudanças propostas não estão levando em consideração dados sobre o parto no país e colocam em risco as vidas da mãe e do bebê. - O Ministério da Saúde acha que é possível separar partos que podem dar problemas dos que são mais tranquilos e isso é impossível. Os casos de baixo risco sempre podem complicar. Como os profissionais que estarão no momento do parto vão conseguir reverter alguma urgência? Sem um treinamento adequado, a vida da mãe e do bebê podem estar em risco. É importante ressaltar que 10% dos recém nascidos no mundo precisam de suporte para iniciar a ventilação, a respiração. Essa ajuda precisa ser dada no primeiro minuto de vida. Sem um pediatra presente na sala de parto, sem estar em um ambiente seguro, como este bebê será atendido no tempo certo? - explica Marcelo Pavese Porto. Segundo o pediatra, esses 10% de casos de recém nascidos que precisam de suporte ao nascer representam 300 mil crianças por ano no Brasil. Além disso, dos 3 milhões de nascimentos anuais no país, cerca de 1% necessita de auxílio médico, com manobras de reanimação. Por isso, as mudanças no parto do SUS são perigosas para os pequenos, quando o parto não for realizado em local adequado e com profissionais capacitados. - Nos últimos anos, a taxa de casos de mortes por asfixia em recém nascidos diminuiu bastante. Isso acontece devido ao trabalho exaustivo de entidades médicas em capacitar obstetras e pediatras. Melhoramos muito o atendimento ao recém nascido no país, mas não podemos simplesmente ignorar isso tudo e mudar o que está dando certo - salienta. De acordo com o pediatra sócio da SPRS e coordenador do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria no RS, Silvio Batista, na contramão da mudança proposta pelo Ministério da Saúde, que apenas sugere a presença de um pediatra na sala de parto, a sociedade médica gaúcha luta para que todos os partos tenham um médico especialista para cuidar do bebê ao nascer. - Nós queremos que isso seja uma obrigação, pois os dados nos mostram que é necessário ter um pediatra no nascimento, evitando problemas que podem transformar a vida de uma família, como a morte de um recém nascido. O Ministério da Saúde quer separar a gravidez de risco, mas isso é jogar com a sorte, pois é sabido que 1% das crianças vai precisar de um atendimento que só um médico pode dar - avalia Silvio Batista. Os pediatras esclarecem que não são contrários ao empoderamento feminino e concordam que a decisão da mãe sobre o parto é essencial. Porém, a decisão final deve ser dada por um médico obstetra. - Sabemos que é muito importante que a mulher participe das decisões e se sinta confortável no momento do parto, mas quem tem a informação e o conhecimento sobre os procedimentos é o médico. Um parto humanizado de verdade é aquele que a mulher escolhe quando quer engravidar, consegue fazer um acompanhamento adequado da gravidez e depois realiza um parto em segurança, em local adequado. Muitas vezes, as informações sobre os partos domiciliares são dadas por alguém que não é da área da saúde - relata Silvio Batista. Cuidados com recém nascidos O médico destaca que, entre as mudanças divulgadas pelo Ministério da Saúde, algumas já estão sendo realizadas pelos médicos gaúchos por orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, como o contato pele a pele imediato com a criança logo após o nascimento e o estímulo à amamentação. - O nosso Programa de Reanimação Neonatal é respaldado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e estamos fazendo como o que é recomendado por entidades mundiais, que acompanham e atualizam os cuidados pós parto a cada cinco anos. Esses cuidados precisam ser difundidos e, nesse caso, a proposta é válida e positiva - afirma. Os pediatras salientam que existem muitos dados que podem ser consultados. Por isso, é preciso atenção com os casos de problemas ao nascimento. Levantamento da DataSUS mostra que uma média de 12 bebês morrem todos os dias no Brasil, por problemas relacionados à asfixia. Muitas dessas mortes, segundo o pediatra Marcelo Pavese Porto, não ocorrem no momento do parto, mas acontecem em virtude de complicações ao nascimento. Autor: Mariana da Rosa Fonte: Play Press |