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Especialistas projetam o futuro da sociedade e das relações de trabalho no evento que segue até amanhã (19), na PUCRS

A manhã desta quinta-feira (18) no CONGREGARH 2017 contou com as palestras do doutor em Administração pela FGV e professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente; da especialista em Educação e Recursos Humanos, Leyla Nascimento; e do filósofo, professor e pesquisador do CNPq, Celso Candido Azambuja. Os efeitos da tecnologia no mundo em que vivemos e em um futuro próximo, além dos diálogos sobre ética foram os temas das palestras dos especialistas do evento que acontece no Centro de Eventos da PUCRS até amanhã, sexta-feira (19).

Vicente analisou em sua palestra como será o trabalho no futuro sob os aspectos econômico, tecnológico e social. Para o professor, são três efeitos econômicos que rebatem em três efeitos tecnológicos que implicam em mudanças sociais. O mundo será transformado pela tecnologia que deverá destruir milhões de empregos para construir outros milhões de empregos. “Mas não necessariamente para as mesmas pessoas”, alertou. Então, onde estarão os empregos do futuro? “Nas atividades que lidem com pessoas, resolvam problemas e usem a criatividade”, enfatizou.

De acordo com Paulo Vicente, a tecnologia está no centro de todas as mudanças que já estão acontecendo e que ocorrerão de forma cada vez mais rápida nos próximos anos. Está mudando a natureza, inclusive, e em breve seremos trans-humanos, seres 3.0, inteligências híbridas com habilidades desenvolvidas por alta tecnologia como a nanomedicina, bio-impressão, exoesqueletos biônicos e Deep Brian Stimulation. “Tudo isso proporcionará a extensão da vida até os 120 anos de idade. Aposentadoria aos 100 anos, adolescência até os 40, maternidade aos 50 anos e tudo resultaria em choque de gerações. Para resolver, reforma das aposentadorias, da educação e reforma do sistema de recursos humanos”, disse Vicente.

O futuro do trabalho

Nesta realidade futura, o mundo corporativo em competição por recursos naturais se dispersa geograficamente, com unidades espelho em continentes diferentes possibilitando poder de decisão ágil e rápido, pois não se pode mais ficar preso ao ciclo solar. “Isso mudará a forma de trabalho e vai acelerar ainda mais o uso de novas tecnologias. E o futuro do RH? Evolução! Já foi setor de pagamento, departamento pessoal, gerência de RH. Atualmente, algumas empresas já adotaram a gerência de capital intelectual e na segunda metade do século, teremos as gerências de recursos autônomos que irão lidar não apenas com os seres humanos, mas com inteligência híbrida formada por humanos naturais, humanos híbridos, inteligência artificial, androides e robôs antropomorfos”, adiantou.

Se hoje em dia os Recursos Humanos trabalham desenvolvendo conhecimento e habilidades, neste futuro próximo deverão gerenciar comportamentos que poderão ser modificados por novas tecnologias. E então esbarraremos na ética conforme prevê o professor. “Até onde poderemos modificar o comportamento das pessoas? Isso será amplamente debatido, discutido, vai gerar crises e a crise forçará a criação de uma nova ética. O que hoje é inaceitável, daqui a anos será obrigatório”.

Nesse contexto, a Educação como é entendida hoje irá evaporar. O professor será necessário no início da vida para apresentar à criança como interagir com o mundo e as pessoas e no final, como pesquisador. A informação vai virar commoditie, o educador será um produtor de conteúdo online. Sala de aula virtual, gamificação, interface neural, uploading e outras tecnologias formando as inteligências híbridas e autônomas.

Ética

Após apresentar a concepção filosófica da ética sob a visão dos grandes pensadores como os iluministas Aristóteles e Kant e pós-iluministas Nietzsche e Engelhardt, o professor e pesquisador Celso Azambuja conversou com a especialista em Educação e Recursos Humanos, Leyla Nascimento sobre a crise de valores pela qual atravessa o Brasil. Leyla lembrou que muitas empresas estão envolvidas nos escândalos que assolam o País e questionou sobre como os RHs podem lidar com este momento. Para Celso, o mundo das corporações, apesar da necessidade de praticidade, deve ser iluminado pelos conceitos filosóficos. “Vivemos no mundo raso das redes sociais. É necessário trilhar o caminho da construção conceitual até chegar à prática. Entender as ideias dos grandes pensadores como ferramentas de decisão das organizações”, afirmou.

Um possível retorno aos antigos valores da sociedade também foi levantado por Leyla e justificado por Azambuja como um reflexo do mundo estar vivendo sem valores como amor à Pátria e à família. “Daqui pra frente ou criamos novos valores ou retrocedemos aos antigos. Estamos vivendo tempos líquidos e esse retorno é uma tentativa de se agarrar a alguma coisa”.

O empoderamento e as essências do feminino implementadas nas organizações como forma de tornar o ambiente corporativo mais cuidadoso, mais atento às pessoas também foi abordado pelos especialistas assim como a felicidade no trabalho. Para Azambuja, seria preciso discutir o que é felicidade, mas, para ele, empresa boa de trabalhar é aquela que reconhece e dá valor ao trabalho e à criatividade das pessoas. “Até hoje temos o trabalho como valor supremo da vida. No entanto, os jovens ao invés de viver para trabalhar, trabalham para viver. As organizações precisam entender que as formas de produção e criação estão mudando”, finalizou. 


Autor: Gabriel Campos Machado
Fonte: Enfato

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