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Artigo de Leonardo Torres, 30 anos, psicoterapeuta junguiano e palestrante

O ano de 2021 ainda será marcado pela COVID-19, principalmente, no Brasil. Já em janeiro, os números de casos de coronavírus voltaram a crescer enormemente. A principal hipótese do aumento de casos é a banalização do vírus, o que leva a aglomerações, encontros, etc.. Se isso for correto, o maior desafio do brasileiro ainda está por vir: o Carnaval.

É evidente que a vacinação não será rápida devido ao número da população brasileira; e a proibição do Governo pode não impedir que os foliões saiam às ruas. Isso significa que os números de casos e mortes podem aumentar.

A proibição e/ou o adiamento do Carnaval 2021 pelo Governo podem não ser respeitados, pois se lançarmos o olhar na História, dois adiamentos já foram estipulados: em 1892 e 1912. E a população, por não acatar os pedidos dos governantes, acabou por realizar duas vezes o carnaval nesses anos.

Apesar dessas datas não estarem relacionadas a nenhuma pandemia, na Europa Medieval o carnaval que se seguiu após a epidemia da peste bubônica foi um dos maiores já relatados. Isso aconteceu pois, culturalmente, o carnaval é uma festividade de expiação. Livramos todas as tensões sociais nele. Já em meio à peste e contagiados pelo medo coletivo, existem diversos relatos de grandes e ininterruptas aglomerações e festas, como as famosas danças de São Vito ou danças da morte.

O caso mais famoso é o de Estrasburgo, na França. De acordo com os estudos já realizados e relatos da época, quem começava a dançar não conseguia parar. Alguns autores denominam esses casos de histeria coletiva; já eu prefiro denominá-lo de Contágio Psíquico, tema do livro que lançarei este ano.

O fato é que ali houve uma expiação coletiva do medo da morte que a população da época enfrentava. Podemos entender esta expiação do medo da morte como um fenômeno coletivo contrafóbico da psique, ou seja, quando o indivíduo vai ao encontro de seu medo para que possa se livrar dele - um livramento literal. Nesse caso, muitos indivíduos encontram a morte literal. Por isso, é necessário simbolizar.

Apesar de parecer uma época longínqua, não podemos negligenciar a natureza psíquica humana. Vimos no ano de 2020 muitos indivíduos seguindo esse padrão contrafóbico e não praticando nenhuma medida de higiene e segurança contra a COVID-19. Presenciamos também os furtos de papel higiênico e um aumento considerável do consumo de benzodiazepínicos pela população, indicando que o medo está presente, apesar do vírus banalizado.

O fato é que todos estamos psicologicamente exaustos da tensão gerada pela COVID-19. Resta aguardar e tentar ainda seguir com consciência, evitando qualquer tipo de aglomerações, especialmente a do Carnaval, para que este não seja marcado também pela COVID-19 como o maior e pior carnaval do Brasil. 


Autor: O autor
Fonte: Erick Santos

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