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Especialistas debateram o tema no I Simpósio AMRIGS sobre o uso medicinal do Canabidiol realizado na noite de quinta-feira (12/08)

O tema é antigo, mas a pressão pelo uso da Canabis para fins medicinais tem crescido a cada dia, o que reforça a importância de debater o assunto. Por conta disso, o I Simpósio AMRIGS sobre o uso medicinal do Canabidiol trouxe especialistas no assunto para abordar as vantagens, desvantagens, potenciais ganhos e riscos do uso do elemento no tratamento de pacientes. O evento foi realizado em formato híbrido, ou seja, com os debatedores de forma presencial na sede da AMRIGS e transmitido via Sympla Streaming para todos os inscritos.

A saudação inicial foi feita pelo presidente da AMRIGS, Gerson Junqueira Jr. A primeira apresentação foi da médica Tatiana Della Giustina, especialista em Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia e em Medicina do Trabalho e Conselheira do Conselho Federal de Medicina. Na sua fala, fez uma abordagem histórica sobre a Cannabis, evidenciando que o primeiro registro aconteceu por volta de 2.700 a.C, destacando também a evolução dos aspectos legais. No Brasil, o uso é baseado na Lei 11.343/2006 do Sistema Nacional de Política Pública Antidrogas, que em seus artigos proibiu de forma geral uso, a posse e a produção. Posteriormente, os medicamentos à base de Canabidiol tiveram uso aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“A princípio, o Canabidiol é uma droga promissora para tratamento de diversas situações pelos seus efeitos multifacetados. A medicação pode ser neuroprotetora, pode ter propriedades anti-inflamatórias e princípios antidepressivos e antioxidantes. Ou seja, de um modo geral, pode ajudar no tratamento de pacientes com danos neurológicos”, explicou o especialista em Neurologia e Neurofisiologia Clínica, José Augusto Bragatti.

O neurologista Infantil e Neurofisiologista Clínico, mestre e doutor em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFRGS, Josemar Marchezan, discorreu sobre o uso na população pediátrica.

"Cerca de um terço dos pacientes que tem epilepsia apresenta resistência aos medicamentos. Por isso, um novo tratamento que possa melhorar a qualidade de vida dessas pessoas será bem-vindo. Os estudos são bastante antigos, mas em 2013 observou-se em uma paciente, nos Estados Unidos, uma resposta muito importante ao uso do medicamento, o que reacendeu o debate”, descreveu.

Um trabalho retrospectivo descreveu a experiência no estado americano do Colorado com 75 pacientes mostrando que 57% relataram melhora na frequência de crises de epilepsia. Durante sua fala, o palestrante também recordou possíveis benefícios no tratamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), limitado, no entanto, a casos graves.

A médica pela UFCSPA, com treinamento em Neurologia e doutora em Psicofarmacologia pela UNIFESP, Helena Maria Tannhauser Barros, falou dos benefícios e riscos do uso medicinal do CBD. Entre as ações terapêuticas citadas, estão a capacidade de atuar como analgésico, antemético (classe de medicamentos que tem como foco o tratamento de náuseas e vômitos), anti-inflamatório, e possuir composto anticonvulsivante. Ainda, pode agir como agente protetor da neurodegeneração. Por outro lado, a preocupação é com a falta de ensaios clínicos amplos e bem controlados, bem como a segurança em relação aos efeitos colaterais indesejados.

O médico Sérgio de Paula Ramos, doutor pela UNIFESP, lembrou que, mais importante do que o debate filosófico, é analisar dados, não deixando de considerar o fator econômico que está em jogo. Segundo ele, há avaliações de que a soma financeira no mundo de recursos que envolvem álcool tabaco e drogas ilícitas se compara a poderosa indústria bélica no mundo.

A mediação do evento foi feita pelo diretor de Exercício Profissional da AMRIGS, Ricardo Moreira Martins. O I Simpósio AMRIGS sobre uso medicinal do Canabidiol foi promovido pela Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) com apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul, da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul, da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.


Autor: Marcelo Matusiak
Fonte: PlayPress

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