A rede de agências de propaganda McCann Worldgroup – um dos maiores conglomerados do segmento no mundo – mapeou quais são as cidades do futuro na avaliação de seus colaboradores e clientes. A pesquisa ouviu 900 pessoas ligadas ao grupo em diversos países. Resultado: 40 cidades citadas divididas em três listas, entre elas, Rio de Janeiro e São Paulo, além da surpreendente citação à rede social Facebook – “cidade digital capaz de conectar 500 milhões de habitantes”.

No primeiro bloco de cidades (13), estão as que apresentam grandes perspectivas econômicas e são alvo de mudanças e transformações no curto prazo. Entre estas, está o Rio de Janeiro, principalmente pelas obras, projetos e recursos esperados até a capital fluminense sediar o maior evento esportivo mundial, os Jogos Olímpicos, em 2016. No segundo bloco (13), vêm metrópoles que também são transformadoras, mas em uma esfera mais local, e que trabalham em soluções inovadoras para os problemas inerentes a metrópoles. É onde estão São Paulo e Cidade do México.

Top 40

No time ao lado das duas capitais do Sudeste brasileiro, estão ninguém menos que as famosas Paris, Nova York, Tóquio e Londres. Trata-se de um dos mais amplos estudos já feitos pelo grupo no mundo. O chairman da WMcCann no Brasil, Washington Olivetto, não se surpreendeu com o resultado. “Essa revalorização do Rio de Janeiro já é perceptível há algum tempo. Se fala muito da cidade fora do país, e a percepção é que ela caminha a passos largos. No exterior, o Rio é muito bem cotado”, avalia o publicitário, lembrando que a agência que comanda é a maior entre as cariocas – prova da aposta antiga na cidade.

Olivetto também é entusiasta da capital paulista e prefere ver as vantagens que a cidade tem e a que poucas no mundo podem se cigualar. “A miscigenação de culturas, raças e a oferta de oportunidades colocam São Paulo em destaque na comparação com outras cidades”, valoriza.

Preocupação

Estar entre as 40 cidades mais valorizadas de um estudo global injeta grande pressão para que parte dos problemas seja solucionada – antes mesmo de eventos como a Copa de 2014 e os Jogos de 2016. O economista especializado em organização de sistemas de planejamento, Ladislau Dowbor, lembra que a capital carioca precisa resgatar sua identidade após, no passado, ter sido centro político e industrial do País. “A violência acabou ocupando vazios deixados no Rio. A cidade precisa se tornar um grande centro mundial de turismo de negócios e familiar e, a partir desse foco, definir seus investimentos em infraestrutura”, analisa.

Para o economista, que também é consultor da ONU (Organização das Nações Unidas), a situação de São Paulo é ainda mais delicada, porque o rumo dos investimentos atuais alimenta um sistema viário caótico. “O paulistano perde em média duas horas e 43 minutos por dia no trânsito, gerando emissões poluentes, nervosismo e reduzindo seu tempo com a família. Mesmo assim, todas as iniciativas são de aumentar espaço para automóveis, em vez de apostas de ampliação e melhoria do transporte público”. E acrescenta. “Se o desafio é crescer, pensemos que se perdem quase R$ 50 milhões por dia com perda de produtividade dos paulistanos que acabam ficando no trânsito”. Para o especialista, urge a ampliação do metrô, a construção de corredores de ônibus e melhorias no sistema sanitário.

A possibilidade de “frustrar” as expectativas internacionais com problemas de gestão ou obras inadequadas também preocupa Olivetto, mas o otimismo do publicitário prepondera. “Prefiro acreditar que uma pesquisa como essa exerça pressão sobre os gestores para conduzirem as obras necessárias. Como Barcelona se transformou a partir de uma Olimpíada, podemos ver o Rio fazer muito e virar um fenômeno”, exalta.