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Etanol para todos
   
     
 


12/05/2012

Etanol para todos
O Brasil se torna modelo mundial no uso do biocombustível, mas o alto custo de produção pode colocar em xeque o carro flex

"Incrível, vocês misturam tudo direto no tanque”, diz surpreso o advogado espanhol em turismo pelo Brasil na primeira visita a um posto de gasolina. O que é motivo de espanto para qualquer estrangeiro tornou-se rotina para a maioria dos motoristas brasileiros nos últimos nove anos, desde que o primeiro modelo do Gol Total Flex saiu da concessionária. De lá para cá, o País deixou de fabricar carros movidos somente a álcool ou à gasolina e a frota movida a bicombustíveis já supera 15 milhões de unidades, quase a metade dos 32 milhões de veículos em circulação no território nacional. Até 2020, essa participação deverá superar a barreira dos 80%. Sucesso de público e de crítica, a revolução da gasolina verde enfrenta agora desafios quase tão grandes quanto os do começo do Proálcool. 

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O sonho de tornar o combustível uma commodity global e fazer do Brasil um grande exportador começa a esbarrar na falta do produto para abastecer o próprio mercado interno. Pior: depois de uma longa batalha até derrubar, no ano passado, as barreiras de importação do produto nos Estados Unidos, o País se tornou comprador intensivo do etanol de milho americano. Em 2011, superou a barreira de 1 bilhão de litros e este ano chegará perto dos 500 milhões, graças à redução compulsória da adição de etanol na gasolina de 25% para 20%. Disposição para aumentar a produção nacional não faltou nos últimos anos. A explosão de vendas de carros flex criou um ciclo virtuoso para a lavoura de cana-de-açúcar. Entre 2001 e 2011, o crescimento médio anual do plantio foi de 9,2%, resultado de um investimento agressivo dos produtores. 
 
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A capacidade de moagem no Centro-Sul, que responde por mais de 90% da produção nacional, disparou de 207 milhões para 640 milhões de toneladas no período, consumindo recursos, somente para expansão, em torno de US$ 40 bilhões. Mas o idílio do etanol encontrou uma pedra no caminho, a crise global de 2008, que pegou a maioria dos produtores alavancada com alto endividamento em dólares. Foi a senha para que grandes grupos nacionais e estrangeiros pisassem fundo em aquisições de usinas, iniciando um processo agressivo de concentração do setor. De 2009 para cá, o mercado assistiu a uma série de transações bilionárias. A Louis Dreyfus arrematou a Santa Elisa Vale, seguida pela aquisição da Vale do Iraí pelo grupo indiano Shree Renuka Sugars.
 
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O retorno: em 2002, DINHEIRO antecipou os planos
do governo federal para revitalizar o setor.
 
A Petrobras comprou 40% da Total e mais 45% da Açúcar Guarani, que pouco antes já havia passado o controle ao grupo Tereos. No fim de 2010, foi a vez da venda da Brenco para a ETH, joint venture do grupo Odebrecht com os japoneses da Sojitz. A grande cartada foi dada em fevereiro de 2010 por Rubens Ometto, maior usineiro do País, ao fundir a Cosan com a Shell, formando a gigante Raízen, avaliada em US$ 12 bilhões, detentora de mais de 10% da capacidade nacional de moagem de cana. A Bunge também entrou no jogo, pagando US$ 452 milhões pela Moema. “Vamos plantar 300 mil hectares somente em 2011. Nosso objetivo é o topo”, afirmou à DINHEIRO, em junho do ano passado, o presidente da Bunge, Pedro Parente, apontando a agressividade do grupo na briga pelo etanol. 
 
“A entrada desses grandes grupos foi fundamental para não ter ocorrido uma crise de proporções dantescas no setor”, diz o diretor de agronegócios do ItaúBBA, Alexandre Figliolino. O problema é que depois do ciclo feroz de aquisições, o mercado chegou a uma encruzilhada. Uma combinação de duas safras ruins a partir de 2010 e a rápida mecanização do campo, que em um primeiro momento prejudica a produtividade, está comprometendo a capacidade de geração de caixa e de investimento das empresas. Some-se a isso a política do governo para segurar o preço da gasolina, que em dez anos reduziu a carga tributária de 47% para 35%, enquanto a incidência sobre o álcool se manteve em 31%. 
 
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Pedro Parente, da Bunge: grupo de commodities americano entrou para ficar entre as líderes
na produção de etanol no País.
 
Como o etanol precisa custar até 70% do valor do combustível fóssil para ser atrativo ao consumidor, o custo está cada vez mais próximo do preço final na bomba. Essa pressão levou muitos usineiros a aumentar a aposta no açúcar, com valores bem mais atrativos no mercado externo, diminuindo a participação do etanol para 51% da produção, contra 60% antes da crise. O resumo da ópera é o excesso da capacidade de produção, estimada hoje em quase 150 milhões de toneladas, e falta de cana, tanto para açúcar quanto etanol. Se durante o boom de investimentos, entre 2005 e 2009, foram construídas 102 novas usinas, a previsão para este ano é de apenas uma unidade. 
 
O cenário é ainda mais preocupante considerando a necessidade de o Brasil dobrar a capacidade de produção até 2020, o que deverá consumir R$ 156 bilhões, nos cálculos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Enquanto não houver uma contrapartida do governo para equalizar a política tributária federal em relação à gasolina e renegociar as altas tarifas estaduais sobre o etanol, o setor terá sérias dificuldades para atingir as metas de crescimento”, diz o diretor da Unica, Sérgio Prado, destacando ainda a necessidade de políticas de financiamento para destravar os novos investimentos. Para os donos de carros flex, a gasolina sempre estará à mão, mas a revolução dos biocombustíveis corre o risco de perder a cor nos próximos anos. 
 
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Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Arnaldo COMIN
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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