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Juros ao consumidor devem cair mais rápido
   
     
 


14/09/2009

Juros ao consumidor devem cair mais rápido
Afirmação é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles

Os juros ao consumidor vão continuar caindo, mesmo que a taxa básica de juros do país, a Selic, seja mantida no mesmo patamar, diz o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A redução da inadimplência e o avanço dos bancos públicos, afirma, forçarão as instituições privadas a reduzirem taxas e "spreads" (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram dos clientes). Meirelles exortou pré-candidatos à Presidência, em especial o governador paulista, José Serra, a explicitarem suas convicções econômicas. E disse não ter decidido ainda se vai se candidatar a algum cargo eletivo em 2010.
 

Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é muito importante que os candidatos deixem claro, "sem margem de dúvida", qual vai ser a política macroeconômica do Brasil a partir de 2011. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha na sede do BC, em Brasília.

FOLHA - Qual foi o momento mais delicado da crise?
HENRIQUE MEIRELLES - Sexta-feira, 10 de outubro de 2008. Eu estava em Washington para uma reunião do FMI, em um encontro dos bancos centrais latino-americanos. Nesse dia recebi informações de que a liquidez do sistema financeiro estava caindo rápido, e que bancos já estavam com problemas.

FOLHA - bancos pequenos, médios ou grandes?

MEIRELLES - Os pequenos e os médios já estavam com dificuldades de financiamento. bancos grandes já começavam a sentir os efeitos da crise. No sábado, decidi voltar ao Brasil. Fizemos uma reunião de diretoria do Banco Central no domingo à noite. Na segunda-feira anunciamos uma série de medidas que, acredito, foram decisivas, que evitaram danos severos ao país.

FOLHA - A impressão que se tinha era de que apenas bancos pequenos e médios sofreram.

MEIRELLES - Grandes empresas brasileiras tinham assinado contratos de derivativos vendendo dólares equivalentes, em alguns casos, a anos de exportações. Com a depreciação cambial, o prejuízo dessas empresas aumentou enormemente. Elas ficaram insolventes. Eram empresas grandes, não se sabia quantas nem quais. Elas tinham contratos majoritariamente com bancos internacionais. Só que mantinham linhas de crédito com grandes bancos nacionais -aqui, de novo, não se sabia quantos nem quais.

FOLHA - Houve risco de insolvência, de crise sistêmica?

MEIRELLES - Sim, começou a haver uma preocupação muito similar à que existia em outros países. Mas o concerto de ações resolveu o problema de liquidez dos mercados futuros. As empresas endividadas puderam renegociar com bancos estrangeiros.

FOLHA - O que teria ocorrido se o BC não tivesse agido?

MEIRELLES - O prejuízo poderia chegar a proporções monumentais. O mercado estava de tal maneira alavancado que, se o Banco Central não interviesse, geraria perdas extravagantes para bancos brasileiros que tinham crédito com essas companhias.

FOLHA - A valorização recente do real criou novos excessos no mercado de derivativos?
MEIRELLES - Não. Os prejuízos da crise ensinaram uma lição dramática, não apenas no Brasil como no mundo inteiro. Hoje não se assume mais o tipo de risco que se assumia antes.

FOLHA - Como o senhor avalia a ação da do ministro Mantega na crise? Como foi a coordenação entre vocês dois?
MEIRELLES - A coordenação foi boa e está expressa nos bons resultados. A fase inicial, dos primeiros 60 dias, foi concentrada no Banco Central, como deveria ser. A partir da normalização dos mercados de crédito, aí sim veio o impulso fiscal, e veio na hora certa. O impulso fiscal foi eficaz apenas porque foi precedido da atuação no mercado de crédito.

FOLHA - A crise acabou? Qual é o saldo dela para o país?
MEIRELLES - A recessão acabou. O Brasil já está crescendo, embora muitas das consequências da crise permaneçam. Teremos ainda um período de incertezas no cenário internacional. Mas a economia brasileira está bem encaminhada: 2010 será um ano robusto, com mais emprego, mais renda e bastante estabilidade.

FOLHA - Que medidas foram decisivas?
MEIRELLES - O anúncio da liberação dos R$ 100 bilhões de compulsório foi a primeira delas. O processo continuou nos dias e nas semanas seguintes, com o anúncio de que estaríamos preparados para atuar no mercado futuro e de que iríamos emprestar reservas internacionais. A partir daí a situação normalizou-se.

FOLHA - A Selic não deveria ter sido reduzida já em dezembro?
MEIRELLES - Tenho absoluta segurança de que não. Os mercados de crédito ainda estavam disfuncionais, a taxa de juro futuro, muito elevada nos mercados a termo. E a expectativa de inflação, ainda muito elevada. Um corte de juros ali serviria apenas para gerar mais volatilidade e insegurança.

FOLHA - Como foi a atuação do presidente Lula na crise?
MEIRELLES - Sempre deu apoio total, sempre manifestou total confiança no Banco Central e em mim. Ele se preocupou muito com todas as previsões que existiam de aumento de desemprego, de demissões. Todos estavam preocupados, principalmente ele. Mas sempre apoiou o Banco Central.

FOLHA - Há espaço para que o juro ao consumidor continue caindo, mesmo que a Selic não caia mais?
MEIRELLES - Sim, certamente. Há espaço porque estamos falando, na verdade, da queda dos "spreads", que é muito relacionada, primeiro, a uma percepção de crescimento, de diminuição da inadimplência, do aumento da previsibilidade e da estabilidade.

FOLHA - O senhor se refere a um cenário de mais longo prazo?
MEIRELLES - Não, não. Num cenário de curto prazo. A inadimplência já está caindo.

FOLHA - Os bancos privados seguraram demais o crédito?
MEIRELLES - Os bancos públicos cumpriram o seu papel quando fizeram um movimento contracíclico. Tinham recursos para isso, pois estavam ganhando depósitos. Já o setor privado fez um movimento conservador, que é compreensível, à medida que o mundo lá fora estava despencando. Estrategicamente, perderam posição.

FOLHA - Os bancos privados vão baixar os "spreads" com mais força?
MEIRELLES - Se não reduzirem os "spreads", os bancos privados vão perder mercado.

FOLHA - O Brasil continua tendo "spreads" e taxas de juros reais entre as mais altas do planeta. Existe alguma razão lógica para isso?
MEIRELLES - A taxa de juro real brasileira, no mercado a termo, está hoje em 4,9%, e a tendência de médio e longo prazos é de queda. Ela tem caído sistematicamente. Há ciclos de apertos e de flexibilização monetária, subida e descida. A tendência é de queda.

FOLHA - Mas ela continua entre as mais altas do mundo.

MEIRELLES - Isso não é uma questão meramente de opinião ou de classificação ou de ranking. Entramos na crise com uma demanda doméstica crescendo a 9,3% ao ano. Não parece ser o resultado de juros conservadores, suponho.

FOLHA - O governo ainda pensa em medidas para derrubar o "spread"?
MEIRELLES - Não. O principal fator que levará à queda dos "spreads" é a maior estabilidade e competição. Os bancos trabalham com "spreads" baixíssimos no mundo todo não por boa vontade ou por convicção ideológica. É por competição.

FOLHA - O real está sobrevalorizado com relação ao dólar?

MEIRELLES - A taxa de câmbio flutua devido a uma série de circunstâncias. No caso do Brasil, ela é muito relacionada ao preço mundial de commodities e à aversão a risco. A descoberta do pré-sal e o agronegócio elevaram a capacidade de expansão de moeda forte no país. Há outra coisa: o dólar está caindo no mundo.

FOLHA - O real não está se valorizando mais do que outras moedas?
MEIRELLES - O Brasil é um dos países que estão saindo mais rapidamente da crise. É natural que atraia recursos.

FOLHA - Para a renda fixa?

MEIRELLES - A entrada de recursos para a renda fixa não é relevante hoje em dia.

FOLHA - Quanto custou salvar o Brasil?
MEIRELLES - O custo foi, de longe, o menor do G20. O Banco Central ganhou dinheiro com as medidas anticrise. Só nos "swaps" cambiais, ganhou R$ 10 bilhões, ganho que compensou boa parte do custo fiscal. O custo efetivo da crise foi apenas a isenção do IPI.

FOLHA - O senhor já escolheu um partido para se filiar?
MEIRELLES - Nem decidi se vou me filiar. Não se surpreendam se eu não o fizer. Caso me filie, terei até abril para decidir se sou ou não candidato. Uma eventual filiação não indica que vou me candidatar. É como um contrato de opção, que pode ou não ser exercido.

FOLHA - A filiação não traz o risco de contaminação política do BC?
MEIRELLES - Essa avaliação nasce do equívoco de que política monetária frouxa e inflação alta são bons eleitoralmente. A história do Brasil desde a redemocratização mostra que isso não é verdade. Uma política monetária cambial benfeita tem dividendos eleitorais.

FOLHA - O sr. disse, em uma reunião ministerial, que "tem gente em São Paulo que não inspira muita segurança no mercado". Foi uma referência ao governador José Serra?
MEIRELLES - Quis dizer que é muito importante que os candidatos deixem muito claro, sem margem de dúvida, qual vai ser a posição macroeconômica do Brasil a partir de 2011. Foi a única pergunta que ouvi no mundo inteiro.

FOLHA - Serra tornou-se um crítico muito agudo do BC e do senhor. Como é que o sr. vê essas críticas?
MEIRELLES - Elas fazem parte da democracia. A única coisa que eu espero é que qualquer que seja o presidente eleito para o Brasil, que ele mantenha a independência do Banco Central e a responsabilidade monetária e fiscal.

FOLHA - A rigor, não existe independência do BC.

MEIRELLES - É verdade. A rigor, não existe a formal, mas a operacional. É importante caminhar no sentido de uma independência formal.

FOLHA - O senhor exclui a possibilidade de se candidatar à Presidência?
MEIRELLES - É algo absolutamente inadequado falar sobre isso. Os candidatos estão lançados e sou o presidente do Banco Central. Estou aqui para tirar o Brasil da crise e, quando muito, penso aqui no planalto goiano.

Fonte: Folha de S. Paulo
Autor: Sérgio Malbergier e Marcio Aith
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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