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Apagão
   
     
 


14/11/2009

Apagão
Até que ponto o sistema é seguro?

Usina de itaipu: segunda maior hidrelétrica do mundo chegou a ser paralisada em decorrência do colapso no sistema das linhas de transmissão

Os brasileiros acreditavam que nunca mais viveriam o pesadelo de um apagão. Depois dos bilhões de reais investidos nos últimos anos no aumento da capacidade energética, os blecautes pareciam ter se tornado coisa do passado. Ledo engano. Durante quatro horas, a partir das 22h13 da terça-feira 10, a luz se apagou para 70 milhões de pessoas em 1,8 mil municípios de 18 Estados brasileiros. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o cenário lembrava um filme de terror: ruas e prédios às escuras, pessoas presas em elevadores e medo de assalto nas ruas. Hospitais sem luz (e sem gerador) colocaram em risco a vida de milhares de pacientes e provocaram a morte de pelo menos três pessoas. Na economia, o prejuízo não foi inteiramente dimensionado. Uma estimativa preliminar do Instituto Acende Brasil calcula em R$ 315 milhões as perdas provocadas pelo apagão. Mas a conta é ainda maior. A falta de energia no sistema de captação de água secou as torneiras de 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo e de dez milhões no Rio. Sem energia, fábricas paralisaram a produção. Na unidade da Fiat, em Betim (MG), carros que estavam nas cabines de pintura ficaram definitivamente danificados e vão virar sucata. Mais impressionante do que a cena de cidades às escuras é a explicação oficial do governo, divulgada 20 horas depois do apagão. "O que houve foi uma fatalidade, uma concentração de fenômenos atmosféricos naquele momento", afirmou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

O argumento do ministro não convenceu ninguém. Perplexidade era o sentimento generalizado nos dias seguintes, à medida que ficava claro que a explicação de "mau tempo" dada pelo governo não se sustentava. Em dois apagões anteriores, em 1999 e 2002, as investigações mostraram que as causas inicialmente apresentadas não eram verdadeiras. Em 1999, no apagão que atingiu dez Estados e interrompeu o fornecimento de energia em 70% do País, o motivo seria um raio caído em Bauru - versão desmentida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em 2002, o governo disse que a queda de energia foi provocada por um parafuso que se soltou na usina de Ilha Solteira. Depois voltou atrás e atribuiu a causa ao rompimento de um cabo. Agora, em 2009, a explicação de que um raio desligou as três linhas que transportam energia de Itaipu para toda a região Sudeste do País também não deve resistir ao tempo. O coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe, Osmar Pinto Junior, disse que as chances de que esse seja o real motivo é zero. "Ou talvez uma em um trilhão", afirmou. A falta de uma explicação razoável deu margem a teorias da conspiração. Dias antes, o programa 60 Minutes, da rede de tevê americana CBS, afirmou que o governo americano teria informação de que hackers já teriam provocado apagões no Brasil em 2005 e 2007. Obama disse em discurso que "ataques deixaram outros países no escuro", sem citar o Brasil. Lobão afirma que a hipótese é absurda.

Especialistas do setor não compartilham da certeza do governo sobre as causas, mas também estão perplexos com a fragilidade de um sistema que consideravam mais seguro. "Eu duvido que o governo já saiba o motivo. As origens de um apagão dessa extensão não são descobertas rapidamente", disse à DINHEIRO o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Para o físico José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, o apagão mostra a vulnerabilidade do sistema elétrico, "apesar das declarações ufanistas do governo de que jamais repetiria os erros do governo FHC", afirma ele. "Para proteger a população do Sudeste - principalmente a metrópole de São Paulo - é preciso expandir o sistema de transmissão e criar caminhos alternativos para que a energia de Itaipu chegue até nós", diz ele. Uma vez feita a interligação do sistema, é preciso agora investir na sua otimização. "Se quiséssemos ter um sistema perfeito, onde nunca faltasse compatível, o que seria impossível para qualquer população", disse à DINHEIRO o presidente da agência, Nelson Hubner. Já o presidente-executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Ricardo Lima, estima que as indústrias de São Paulo tiveram uma perda de 5% da produção mensal e que o custo de transporte de energia já subiu seis vezes nos últimos oito anos.

Não faltaram avisos de que o caos energético poderia acontecer a qualquer momento. Em julho deste ano, o Tribunal de Contas da União publicou um documento recomendando à Casa Civil que verificasse se providências haviam sido tomadas para evitar uma nova crise energética. Outros alertas do TCU cobravam investimentos no reforço do sistema. Em 2007, o ONS manifestou preocupação com "chuvas fortes e trovoadas" na região de Itaberá, em São Paulo, e alertou para o risco de o sistema não resistir a uma descarga elétrica. Em outro relatório, também neste ano, o TCU apontou dotação orçamentária de R$ 1,3 bilhão para obras que nunca foram feitas. Um levantamento da ONG Contas Abertas mostra que, dos R$ 18,7 bilhões destinados ao grupo Eletrobras nos últimos três anos, menos da metade foi de fato utilizado. Em resposta, o ministro Edison Lobão diz que desde 2003 o governo já investiu R$ 35 bilhões no setor.

Embora o atual modelo energético do País tenha trazido de volta os investimentos e garantido a produção de energia, ele não resolveu os problemas de gestão. "Temos sete organizações comandando essa área e, pelo que se vê, não atuam como deveriam", disse à DINHEIRO Ildo Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras.

Caso as empresas e os consumidores sejam chamados a pagar a conta de apagões, o governo arcará com um custo político - que já se tornou visível horas depois do blecaute de terça- feira. Candidata à sucessão do presidente Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, considerada uma especialista em energia, não participou das reuniões do Planalto para discutir o assunto na quarta-feira 11. Na tentativa de se preservar do desgaste, saiu de cena e só falou no dia seguinte, para desmentir que "não havia risco de apagão" no Brasil, como havia declarado duas semanas antes. "O que eu prometi é que não haverá racionamento. Nós não estamos livres de blecautes", afirmou. Se a ministra Dilma chamou atenção pelo seu apagão pessoal, o ministro da Justiça, Tarso Genro, fez pior ao qualificar o episódio como "um microproblema", ignorando que, somente no Rio de Janeiro, três pacientes morreram em um hospital quando faltou luz.

O primeiro grande apagão do governo Lula manchou a imagem de gerente competente da ministra Dilma e tirou um dos trunfos que ela teria na campanha. Agora, tanto petistas quanto tucanos têm o seu apagão. No do governo Lula, sabe-se que não faltou energia nas usinas, como no do governo anterior, mas ainda falta descobrir por que as linhas construídas nos últimos anos não foram capazes de transportá- la até os consumidores.

"O sistema é sólido"
Em entrevista à DINHEIRO, o ministro Edison Lobão garantiu que não haverá novos apagões. Leia a seguir.

DINHEIRO - O TCU diz que faltam investimentos no setor elétrico. É verdade?
EDISON LOBÃO - Não é verdade. O governo mais madrugador nesses investimentos é o atual. Temos um sistema de muito boa qualidade, considerado um dos melhores do mundo. Desde 2003 já investimos mais de R$ 30 bilhões no setor.

DINHEIRO - Mas ainda assim ocorrem problemas, como o atual apagão.
LOBÃO - Esse não foi um problema de geração, mas de transmissão.

DINHEIRO - E por que o sistema não acusou que havia um problema grave e deixou que grande parte do País parasse?
LOBÃO - Os sistemas que foram montados para evitar isso funcionaram corretamente. O sistema brasileiro não é frágil, é forte. É tão robusto que voltou em quatro horas. Em outros países volta em um dia, três, até quatro dias. No Brasil voltou em 15 minutos, de modo geral, e no Rio e em São Paulo demorou um pouco mais.

DINHEIRO - O governo não demorou muito a dar uma resposta?
LOBÃO - Às 23h15, logo após ter acontecido o fenômeno, fui ao centro de monitoramento do ONS e tomamos conhecimento da gravidade da situação. Não houve demora na informação. A nossa preocupação maior era em restaurar o sistema. E isso foi feito. Era o que importava ao povo e voltou a funcionar 100%.

Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Denize Bacoccina e Gustavo Gantois
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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