O BNDES acaba de confirmar o patrocínio no valor de R$ 1,1 milhões, através da Lei Rouanet, para a continuação das obras de restauração da Cinemateca Capitólio. O projeto é uma parceria entre a Fundacine e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, com apoio da Associação de Amigos da Cinemateca Capitólio (AAMICA).

Para o presidente da Fundacine, Cícero Aragon, essa é uma grande conquista do cinema brasileiro produzido no Rio Grande do Sul. “Em breve contaremos com uma cinemateca e devolveremos à cidade uma sala de cinema de rua, tão rara nos dias de hoje”, afirma.

As obras no Cine Theatro tiveram início em dezembro de 2004. O projeto contou com um patrocínio, no valor de R$ 4,2 milhões, da Petrobras em suas duas primeiras etapas, que resultou na conclusão da parte civil da obra – a fachada e as estruturas da construção já estão totalmente recuperadas.

A conquista do novo financiamento, que iniciou em 2006 quando a Petrobras decidiu não patrocinar a última etapa do projeto, foi um longo processo de persistência. De acordo com Aragon, foram várias viagens ao Rio de Janeiro, visitas da equipe técnica do BNDES a Porto Alegre e repetidas alterações no projeto para o acordo. O trabalho ainda envolveu a conquista da Carta de Reconhecimento da Importância Cultural e Imaterial do Capitólio, que ocorreu em dezembro de 2007 junto ao IPHAN, e uma detalhada construção de apoios institucionais em todos os níveis de governo, além da ajuda de diversos colaboradores.

A expectativa agora é de que o contrato seja assinado até o próximo mês, e que o reinício das obras ocorra já nos primeiros meses de 2010. A inauguração fica prevista para o primeiro semestre do ano que vem.

A cinemateca começa a tornar-se realidade

A Cinemateca Capitólio será a primeira da região Sul e a segunda do País. Pretende reunir todo o acervo audiovisual do Rio Grande do Sul. A Cinemateca Brasileira presta, por meio de um convênio, o suporte técnico de acervamento, restauração das películas, vídeos e materiais documentais, como cartazes e revistas. Todo material é enviado para a equipe da Cinemateca Brasileira onde recebe tratamento adequado para estar, em breve, disponível aos gaúchos no prédio do antigo cinema da Borges de Medeiros. Entre os eventos já realizados pela cinemateca estão o seminário “Cinema e Memória”, que reuniu profissionais do meio cinematográfico do Brasil e Uruguai no final do ano passado.

Atualmente, o acervo da Cinemateca Capitólio conta com 91 filmes, entre eles dois longas, além de 404 vídeos brasileiros e estrangeiros. Todo o trabalho de pesquisa e catalogação é realizado há um ano em uma sala da Usina do Gasômetro, cedida pela Prefeitura. O jornalista e pesquisador Glênio Póvoas está contratado e em março começa a atuar como consultor técnico de catalogação e acervo. Atualmente ele está em São Paulo, onde pesquisa a metodologia e técnicas adotadas pela Cinemateca Brasileira.

A Cinemateca Capitólio vai contar com uma sala de cinema com 188 lugares, equipada com projetores digital, 35mm, 16mm e de vídeo. Também haverá cinco salas de projeção multimídia – uma com 42 lugares e outras quatro microssalas com três a cinco assentos. O projeto prevê ainda área de acervo, biblioteca, café e um espaço de exposições com mostras permanentes e temporárias de cartazes de filmes e outros materiais relacionados à história do cinema.

Histórico do Cine Theatro Capitólio

O Cine Theatro Capitólio foi inaugurado em 12 de outubro 1928 com o filme Casanova - o  príncipe dos amantes. Edificação em estilo eclético com influências da arquitetura açoriana e colônia portuguesa, o prédio do cinema foi projetado pelo arquiteto e engenheiro Domingos Rocco, vindo especialmente de São Paulo para acompanhar a obra.

Na década de 20, a construção foi considerada sem comparação na cidade. Unia luxo, complexidade e perfeição na arquitetura e decoração da sala de projeção. Além de filmes, o Cine Theatro apresentava peças de teatro, bailes e até concursos de misses. Companhias teatrais e vedetes do teatro de revista passaram pelo palco do Capitólio. Nos primeiros anos, filmes mudos eram exibidos com acompanhamento de piano ao vivo. Em 1969, o Capitólio foi arrendado e reformado. Depois de quatro décadas de enorme sucesso, sempre reconhecido como uma das melhores salas da Capital, o nome do cinema mudou para Cine Première.

Passados dez anos, o prédio sofreu nova intervenção e o antigo nome lhe foi devolvido. A crise dos cinemas de rua já era uma realidade. Ao longo da década de 80, os problemas financeiros marcaram a administração do espaço, situação que se estendeu até o fechamento do cinema em junho de 1994. No ano seguinte, a prefeitura declarou o prédio Patrimônio Cultural de Porto Alegre, reconhecendo a necessidade de sua preservação e recuperação. Para isso, o Capitólio foi adquirido pelo município.