Central do Brasil, no Rio de Janeiro: na terça de Carnaval, segunda temperatura mais alta da história

Como todos os anos, na terça-feira de Carnaval as ruas da capital carioca ficaram repletas de animados foliões. Nada demais, se não fosse um fato atípico. Enquanto os blocos e escolas de samba esquentavam os tamborins, a temperatura da cidade disparou. Os termômetros marcaram 41,8 graus, a segunda marca mais alta da história. A sensação térmica, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi de 50 graus, acima do máximo considerado suportável pela ONU. Para alguns setores da economia, porém, o calor intenso significa uma lufada de ar fresco nos negócios. Nesse período do ano, é de praxe o aumento no consumo de bebidas, sorvetes, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. Mas no verão de 2010 a procura por alguns itens "refrescantes" superou as previsões mais otimistas da indústria. As vendas de ar-condicionado, por exemplo, dispararam 40% na comparação com o ano anterior. É o dobro do que havia sido projetado. Resultado: segundo a Eletros, entidade do setor, houve falta de aparelhos em muitas lojas do Brasil. No Carrefour as vendas triplicaram, em especial nas cidades de São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Houve um repique inesperado da inflação, como reza a regra básica da baixa oferta e alta demanda. O preço do ar-condicionado subiu 1,46% entre janeiro e fevereiro, segundo a Fundação Getulio Vargas.

"Aprendemos uma lição: devemos rever nossas estimativas de vendas para os próximos anos " Armando Ennes Junior, diretor de RI da Whirlpool

Produzidos em Manaus, os ventiladores e aparelhos de ar-condicionado demoram cerca de 20 dias para chegar aos estoques do varejo, tempo insuficiente para suprir a demanda dos consumidores. O jeito foi aumentar a fabricação dos itens em até 25%, como fez a subsidiária brasileira da Whirlpool. "No verão, nossas unidades trabalham em três turnos", afirma Armando Ennes do Valle Junior, diretor de relações institucionais da companhia. "Em 2010, deveremos estender essa iniciativa por pelo menos mais dois meses ou até quando o sol der uma trégua." Segundo o executivo, 60% da produção de ar-condicionado da empresa vai direto para o mercado carioca e é com base nas estimativas de temperatura da região que as projeções de produção são feitas. "Neste início de ano, nós aprendemos uma lição: devemos rever nossas estimativas de vendas para os próximos anos e nos prepararmos de forma mais adequada para o calor intenso." Segundo ele, estudos encomendados pela Whirlpool indicam que o verão vai durar mais tempo - e a empresa precisa aproveitar para faturar com isso. "Temos de nos preparar para produzir com rapidez suficiente para abastecer as lojas."

As vendas de água mineral aumentaran 45% neste verão, em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento foi bem maior em algumas regiões. Em Minas Gerais, as vendas cresceram 45%. No Rio de Janeiro. dobraram. Com isso, as empresas engarrafadoras também tiveram de elevar suas produções em até 30%. "De novembro a fevereiro, a estimativa é de que 1,3 bilhão de litros sejam consumidos, um salto enorme para o setor", afirma Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Água Mineral (Abinam). Os efeitos do aquecimento global, principal responsável pelas temperaturas sufocantes registradas nos últimos dias, são sentidos de maneira inversa por alguns setores da economia. Com o excesso de chuvas torrenciais, outro fenômeno marcante deste verão, muitas construtoras tiveram de interromper suas obras. As entidades do setor ainda não calcularam os prejuízos gerados pelas paralisações, mas o assunto já preocupa.