No início de janeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu um crescimento de 5,2% para a economia brasileira em 2010. Dias depois, o Banco Central projetou uma expansão de 5,8% para o PIB. O Bradesco, naquela mesma época, apostou em 6%. Na mais otimista das projeções, o Credit Suisse cravou um avanço de 6,5%.
Qualquer acerto entre esses palpites teria sido uma boa notícia para o País. Mas, a julgar pelos indicadores do primeiro trimestre, divulgados pelo Banco Central na semana passada, todos erraram. Entre janeiro e março, em relação ao mesmo período de 2009, o País teria crescido 10% – mais precisamente, 9,85%.
Se os dados forem confirmados pelo IBGE no início de junho, trata-se da maior expansão em mais de três décadas. “Não é um espasmo. O Brasil recuperou o dinamismo de antes da crise. Isso é raro e surpreendente”, disse o diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida.
O resultado é surpreendente não apenas por ser um fato raro, mas também por outras duas razões. Primeiro, porque as estimativas mais otimistas andavam próximas a 8%, e errar dois pontos percentuais para mais ou para menos representa algo como R$ 60 bilhões.
Segundo, porque os maiores mercados do planeta, exceto a China, ainda convivem com o fantasma da crise. Os EUA, no melhor dos cenários, avançam a um ritmo de 3%, enquanto a Europa patinou em 0,2% no primeiro trimestre. Mas, afinal, será que o crescimento brasileiro em escalada chinesa é sustentável?
A resposta é um enigma nos bastidores econômicos. Nos corredores do Banco Central, ganha força o debate sobre a necessidade de manter a trajetória de alta dos juros – posição que se fortalece com a divulgação do crescimento de 9,85%. Dentro do Ministério da Fazenda, no entanto, todos evitam falar em superaquecimento.
“O trimestre foi atípico. Vamos controlar uma expansão exagerada”, diz o ministro Mantega. Ele ainda trabalha com uma aceleração entre 7,5% e 8,5% para o PIB no trimestre e com modestos 5,5% no ano, o que tornaria desnecessária uma nova alta dos juros. “Não é uma bolha. Já estamos vivendo uma nova realidade econômica”, endossa Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e da Cedro Cachoeira. “O trimestre fugiu à regra, mas indica o que será a partir de agora.”
O início de 2010, de fato, fugiu à regra. A expansão de quase 10% do PIB no trimestre é reflexo, em especial, do recorde de vendas de veículos com isenção ou desconto de IPI e da explosão nas vendas de imóveis, além do aumento de 25% do crédito. “O crescimento é empolgante e, ao mesmo tempo, preocupante. Muitos setores estão no limite”, afirma o economista Herbert Steinberg, opinião compartilhada pelo ex-presidente do BC Armínio Fraga.
A razão para nem todos aplaudirem o crescimento decimal tem nome: inflação. Os efeitos nocivos de um eventual superaquecimento da economia – que geralmente aparecem em forma de alta generalizada nos preços – preocupam a equipe econômica do BC e economistas. “Crescimento assim só é motivo de festa se vier sem inflação.
Caso contrário, a bênção vira maldição”, garante o economista Alexandre Espírito Santo, professor da ESPM-RJ. Seja bênção, seja maldição, o fato é que qualquer resultado entre 5% e 10% neste ano colocará o Brasil em posição de destaque no ranking dos maiores crescimentos em 2010. E isso, sim, é motivo de festa.