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Marcos Jank, presidente da Unica
   
     
 


17/06/2010

Marcos Jank, presidente da Unica
"O etanol de cana entrou no radar das grandes petroleiras"
Marcos Jank, presidente da Unica

Desde que Shell e Cosan se uniram, criando uma das maiores companhias de etanol do mundo, Marcos Jank, presidente da Unica, entidade representante do setor de etanol no Brasil, passou a receber executivos do ramo petroleiro em seu escritório em São Paulo.

Todos, diz ele, interessados em firmar parcerias com usineiros do País. “Essas empresas têm a necessidade de reduzir carbono na gasolina e a única maneira de fazer isso no curto prazo é misturando etanol”, diz Jank. Na entrevista que segue, o executivo fala sobre a energia gerada por usinas, o potencial do mercado e como o Brasil pode se diferenciar do resto do mundo. Acompanhe:

DINHEIRO – Há cerca de dois anos, já havia um movimento significativo de consolidação nesse setor. Ele ainda é muito fragmentado?

MARCOS JANK –
Sim, ainda é. O Brasil tem 430 usinas hoje. Trata-se de um segmento ainda constituído por empresas familiares que têm , em média, uma escala de produção pequena. Está havendo agora uma consolidação acelerada, principalmente depois da crise financeira do ano passado, e vai continuar porque há muitos novos interessados vindo para o País.

DINHEIRO – Esses interessados são estrangeiros?

JANK –
É curioso. Em um certo momento falou-se que as empresas estrangeiras tomariam conta do setor, mas não é o que estamos vendo. Se de um lado há companhias como Bunge e Dreyfuss crescendo no segmento, grupos nacionais, como Cosan e Odebrecht, também ganham espaço. E, apesar de o nível de participação estrangeira ter passado de 8% para 22% nos últimos dois anos no setor, principalmente depois da operação Cosan-Shell, vemos que a consolidação vai acontecer em todas as direções. Por exemplo, no início de maio a Petrobras anunciou a compra de participação importante na Guarani, do grupo francês Tereos. Curiosamente, desta vez, é a petroleira brasileira comprando ações de uma empresa de capital aberto francesa que produzia etanol no País. O que vai puxar a consolidação são os interesses estratégicos de longo prazo.

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"A operação entre a Shell e a Cosan despertou o interesse da Petrobras"
Posto de combustíveis da Shell, hoje sócia da Cosan


DINHEIRO – É fundamental a participação estrangeira para que o Brasil se torne um player mundial em etanol?

JANK –
Eu acho que esse debate, se o investimento é estrangeiro ou nacional, não faz o menor sentido. O que vale é verificar quais são as áreas da economia que estão interessadas na indústria da cana. Há interesses dos mundos do petróleo – e temos recebido muitas visitas na Unica –, elétrico e químico. Independentemente de serem empresas nacionais ou internacionais. As indústrias químicas olham o potencial dos bioplásticos – recentemente a Coca-Cola, por exemplo, lançou a garrafa ecológica no Brasil. As empresas de energia também enxergam grandes oportunidades para a geração de eletricidade a partir do bagaço e da palha da cana. Então, há aí um movimento estratégico de novos players entrando nesse mercado.

DINHEIRO – Como as petroleiras pretendem explorar o mercado?

JANK –
Acho que várias virão para cá fazendo parcerias com usinas. Essas empresas têm a necessidade de reduzir carbono na gasolina e a única maneira de fazer isso no curto prazo é misturando etanol. Mas a produção da cana é complexa e quem domina essa técnica são os grupos brasileiros, os mais tradicionais no ramo. Nós estamos vendo surgir um modelo de parceria. Por exemplo, a Cosan continuará controlando a produção da cana no negócio com a Shell. E fortalece o interesse o fato de o produto brasileiro ter sido apontado como um biocombustível avançado pelos EUA.

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"O Brasil tem o equivalente a uma Belo Monte adormecida nas usinas"

DINHEIRO – A Petrobras é a maior empresa de energia do País. Por que sua participação no etanol ainda é tímida?

JANK –
Acho que a Petrobras chegou atrasada. A megaoperação entre Cosan e Shell, que acredito ser um paradigma, colocou
definitivamente o setor do etanol de cana no radar de todas as grandes petroleiras. Ao ver esse cenário, a Petrobras finalmente deu um passo. Eu acho que o formato que está surgindo nessas parcerias é positivo. Se a petroleira vier sozinha, corre o risco de quebrar a cara pela complexidade da cana- de-açúcar, que é um produto totalmente desconhecido por elas.

DINHEIRO – Por que ela chegou atrasada?

JANK –
Até pouco tempo atrás, essa área de biocombustíveis dentro da Petrobras ainda passava por um processo de estruturação. A empresa estava muito preocupada em resolver o problema do biodiesel e deixou o etanol um pouco de lado. Quando aconteceu a operação Cosan-Shell, acredito que soou um alerta lá dentro. Eles perceberam que precisavam entrar nesse mercado antes que outros fechassem parcerias e eles ficassem de fora.

DINHEIRO – Essas parcerias com petroleiras vão ajudar a derrubar as sobretaxas cobradas nos maiores mercados consumidores do combustível?

JANK –
À medida que empresas estrangeiras vêm para cá e fazem grandes investimentos, elas também passam a ser nossas aliadas no Exterior. Além disso, o reconhecimento de  órgãos reguladores dos EUA é fundamental. Durante dois anos algumas dezenas de biocombustíveis foram testados, medindo a capacidade de cada um de reduzir emissões de gases de efeito estufa e as consequências do uso da terra. As pesquisas indicaram que o etanol tem capacidade de redução de emissões de gases de efeito estufa de 61% em relação à gasolina. E o de milho, feito pelos americanos, ficou com apenas 21%. Havia acusações em relação aos biocombustíveis. Mas conseguimos mostrar que o impacto direto não existe porque a cana não cresce em áreas de desmatamento, mas nas já ocupadas anteriormente pela agricultura, atividade que não está sendo prejudicada. Soja e milho, por exemplo, são cultivados essencialmente no Centro-Oeste e o Brasil tem 180 milhões de hectares de pasto, en-quanto a cana ocupa oito milhões de hectares.

DINHEIRO – Mas, mesmo assim, por enquanto o valor da taxa ainda não mudou...

JANK –
Não. O subsídio caiu nos Estados Unidos, mas a tarifa, infelizmente, ainda está alta. Os americanos cobram US$ 0,14 por litro e a taxa europeia é de 0,19 centavos de euro por litro. O Brasil até exporta para essas duas regiões, os principais mercados para nós, mas só em condições realmente muito especiais. Ou seja, quando os preços aqui estão baixos e os de lá, altos. Nós só exportamos 15% da produção de etanol, o que representou 3,3 bilhões de litros no ano passado, enquanto chegamos a vender 70% do nosso açúcar para o mercado externo. Hoje, 30 países no mundo têm programas que regulamentam o uso de combustíveis de baixo carbono. Mas os EUA e a Europa são os lugares onde há maior demanda. As exportações devem aumentar mais para o meio da década, quando as legislações que determinam o uso de combustíveis renováveis forem sendo cumpridas. Aí, a demanda crescerá gradativamente e os países eliminarão as tarifas cobradas na importação. Neste momento, inclusive, o Congresso americano discute se vai acabar com a taxa a partir de 2011. Não é possível fazer previsão sobre o que vai acontecer, mas podemos dizer que é grande – e crescente – o número de entidades e lideranças políticas, ambientais e empresariais americanas favoráveis ao fim da tarifa. O etanol de cana é hoje a experiência comercial mais sólida de substituição ao petróleo e o Brasil é exemplo mundial, já que somos o único país que tem 25% de etanol na gasolina e distribuição em todos os postos.

DINHEIRO – Mas a indústria automobilística também tem de acompanhar esse crescimento do setor. Como tem sido essa relação aqui no Brasil?

JANK –
O crescimento da frota flex é o que está puxando essa indústria agora. Hoje, 90% dos carros novos são desse tipo e até o final do ano representarão 50% da frota total. Não tem mais espaço para carros a gasolina no País, a não ser os importados. Todos os lançamentos atualmente são flex e, vale lembrar, esse tipo de motor surgiu em 2003.

DINHEIRO – O desenvolvimento de carros elétricos pode prejudicar o setor?

JANK –
Não, mesmo porque, se forem viabilizados, o que está dando certo hoje é o híbrido, movido a energia e mais alguma coisa. O “mais alguma coisa” pode ser etanol.

DINHEIRO – O sr. falou em interesses na área de energia. Qual a atuação das usinas de cana hoje nesse segmento?

JANK –
Acredito que vamos ter um bom crescimento na geração de eletricidade limpa e renovável a partir do bagaço e da palha da cana. O Brasil tem o equivalente a uma usina de Belo Monte adormecida nos canaviais do Centro-Sul, o que corresponde a cerca de 11 mil MW instalados. Hoje, apenas 23% das usinas brasileiras fornecem energia elétrica para a rede. Elas respondem por 3% da energia gerada no País, o que equivale à produção de 3.600 MW. Com novos investimentos, podemos chegar a 15%, ou 26.315 MW, até 2020. Os leilões focados em energia renovável, que agora estão finalmente sendo lançados e incluem a biomassa (bagaço e palha da cana), eólica e as Pequenas Centrais Hidrelétricas, são o caminho para o desenvolvimento nessa área.  

DINHEIRO – O que falta para ampliar a participação das usinas no negócio energia?

JANK –
Nesse momento, o desafio é trazer as usinas velhas para dentro do sistema, pois elas têm a maior parte da cana. Elas estão principalmente em São Paulo, têm muitas décadas de vida e, se tivermos as condições adequadas de conexão, será possível atraí-las. Muitas precisam investir em troca de caldeiras também. A usina de Pradópolis, do Grupo São Martinho, hoje a maior do mundo, está exportando oito MW e tem potencial para 150 MW, se forem trocadas todas as caldeiras. É um excelente exemplo do tamanho do salto que se pode dar.

Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Érica Polo
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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