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Walter Medeiros – Jornalista
   
     
 


04/07/2010

Walter Medeiros – Jornalista
Porque bebem

Um dos aspectos mais citados nos ambientes de tratamento do alcoolismo, é que os dependentes do álcool bebem por qualquer motivo. Bebem porque estão felizes, bebem porque estão tristes, bebem porque o time ganhou, bebem porque o time perdeu, bebem porque tiveram uma raiva, bebem porque tiveram uma conquista, e assim por diante. Ao que parece, trata-se, na verdade, de um indicador que pode ser estudado e certamente resultará em resposta muito interessante sobre o comportamento dos bebedores-problemas.

Vale lembrar aqui o Capítulo XII do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupery, no qual o principezinho, como chamam os portugueses, dialoga com um bêbado que encontrou em um dos planetas que visitou, após o que, mergulhou numa profunda melancolia: "— Que fazes ai? perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias. — Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre. — Por que é que bebes?, perguntou-lhe o principezinho. —  Para esquecer, respondeu o beberrão. —  Esquecer o quê?, indagou o principezinho, que já começava a sentir pena. — Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça. — Vergonha de quê?, investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo. — Vergonha de beber!, concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio. E o principezinho foi-se embora, perplexo. As pessoas grandes são decididamente muito bizarras", dizia de si para si, durante a viagem, o principezinho.

Pois para esquecer ou para lembrar, observamos, nesta sexta-feira, os bares, botecos, restaurantes, quiosques e calçadas por onde passamos, duas horas depois do fim do jogo do Brasil com a Holanda, e tivemos uma forte impressão de vazio. Houvesse o Brasil ganho o jogo, certamente aqueles espaços estariam ocupados com pessoas festejando e bebendo. Seriam pessoas que têm e pessoas que não têm (os que não têm são a maioria, cerca de 80%) problema com a bebida alcoólica. Estariam festejando justamente o que teria sido uma grande conquista. A conquista não veio e a maioria ficou em casa, ou foi para casa, se estava fora. O fato é que a bebedeira ficou por conta somente de quem já tinha começado a beber, ou aqueles que realmente bebem por qualquer motivo, e até os cria, se não os têm.

O infortúnio brasileiro na Copa do Mundo parece que foi um baque nos "guerreiros" (Principalmente Dunga e Luiz Fabiano), que faziam propaganda de bebida alcoólica, bebida esta que, aliás, anunciava como patrocinadora oficial da Seleção Brasileira. Ao que parece, a bebida alcoólica, por eles anunciada, não teve o condão de levar a nossa seleção mais adiante. E assim os bares e demais ambientes festivos ficaram meio vazios, aguardando o fim do verdadeiro luto que se abateu sobre a nação inteira, que sofre, mesmo não tendo sido esta a primeira vez que se frustram tantos sonhos. Na parede da memória, como diz Belquior, estão certos jogos nos quais o Brasil deu adeus antecipado às copas do mundo.

Não pretendo estudar esse assunto especificamente, mas acredito que pode ser uma boa sugestão para quem estuda o comportamento humano, o alcoolismo, a saúde mental e outros temas, verificar quem é esse universo que fica no bar num dia como este de hoje. Para tanto, poderia até começar com aquelas inocentes perguntas do principezinho, feliz abordagem daquele grande escritor francês, para documentar essa realidade tão visível, mas ainda pouco registrada. Um trabalho desses pode tornar-se uma importante contribuição para o tratamento do alcoolismo e outras dependências químicas que se alastram Brasil e Mundo afora, tratados até como algo engraçado pelo repórter da TV Globo, conforme vimos nas participações que tiveram em Amsterdã. Naquela capital européia, pelo menos, se sabe muito bem por que as pessoas beberam neste dia 2 de julho de 2010.


Fonte: Imprensa
Autor: Walter Medeiros
Revisão e edição: Luiza Müller

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